VENTO FORTE

Vento Forte para Papagaio Subir, texto de Zé Celso Martinez Correa  e direção de Amir Haddad , foi a primeira montagem do grupo Oficina. Isso foi no dia 28 de outubro de 1958, há 50 anos.

Eu sentia e sabia que não poderia deixar de fazer alguma coisa sobre o Oficina nesse momento. Pensei numa exposição que registrasse o impacto da obra de José Celso que, durante esses 50 anos, vem criando e recriando a cultura brasileira.

Daí surge a primeira ansiedade: que exposição pode ser essa, para mim, tão importante quanto ameaçadora? Como falar de Zé Celso, do Oficina?  Como representar, com um mínimo de eficácia, esses ventos fortes que sopram em moto continuo durante meio século?

Havia coisa demais a ser dita. Montagens que revolucionaram o universo cultural do país.  Caminhos agitados que falam de  grandes montagens, sucessos, polêmicas,invasões, incêndios,  prisões, lutas violentas por território. O grupo Oficina que já foi Cia de Teatro Oficina, Oficina Samba, 5º Tempo , Teatro Oficina Uzyna-Uzona. Foram várias etapas, várias histórias. Nunca, passando em branco. Brigando sempre pela experimentação radical que desestrutura, transforma, que se  mistura com a rua, com a multidão.  Laboratório de mergulho nas origens,  que impõe o desejo como instrumento de criação, o corpo e a dança como  funcionalidades primeiras. Criticado pela esquerda, censurado pela direita, a verdade é que ninguém da minha geração escapou do efeito Oficina. Do talento espantoso do poeta Zé Celso.

Sou prudente. Chamei Camila Mota e Lucas  Weglinski – que se constituíram como as vozes  do Oficina – e Alberto Renault – escritor , artista,  diretor de ópera e peça central desse projeto – e começamos a pensar juntos. O titulo da exposição veio nos primeiros 5 segundos de jogo. Foi fácil. O conteúdo veio da lembrança de Camila da imensa documentação áudio-visual, textual e iconográfica produzida desde o início do grupo por Zé e pelas equipes e elencos do Oficina e nunca tornada pública.  Material inédito, bruto.  Vídeos e filmes inteiros ainda desconhecidos. Cadernos de campo, belíssimos e densos, manifestos, documentos passeatas, anotações. Ou seja, o processo de criação e de luta do Oficina em cena aberta. Percebemos a urgência de mostrar esse material. Foi o que decidimos fazer. Alberto Renault optou por não teatralizar  (ou competir com) o material e criou um ambiente limpo e techno no qual a dramaticidade revolucionária e interpelativa do Oficina surgisse em solo. Uma ambientação sotto voce  como o brilho do trabalho do mestre exige.

Foi assim que nos sentimos comemorando os 50 anos do Oficina. É isto que estamos oferecendo para o público já iniciado e para o público que não teve ainda a oportunidade de experimentar o Vento Forte Zé Celso Martinez Correia.